sábado, 11 de dezembro de 2010

Pego

No meu melhor perfume e espalho-o por toda a casa, directamente nas paredes. Não me esqueço de nenhum canto, porque em todos os cantos, mesmo os mais escuros, foram cantos onde te amei. Deixo o frasco de perfume, vazio, pousado em cima da cama. Desço as escadas com pouca pressa. Porque nunca tive pressa de cá chegar. Bato a porta com força moderada. É velha a porta dos nossos sonhos e, hoje, ainda não é dia de a deitar a baixo. Rodo a chave uma só vez. Deixo a casa trancada e as janelas todas fechadas, para que nada consiga escapar daqui. Esqueço a morada. Subo a rua até deixar de saber onde estou. Qualquer caminho que me leve para longe de mim é um bom caminho e, só assim chegarei onde quero.

Parto

Sem despedidas, porque as palavras já as gastamos todas. Sem beijos. Sem cor. Vou vazia de nós, vazia de mim. Vou sozinha. Quando chegas a casa abres a porta um pouco empenada, já há muito que não voltavas lá. Reparas que o pó se foi acumulando, algumas teias de aranha desenham sombras dançantes no tecto.

Estranhas

Nunca viste a casa assim, meio abandonada, um pouco sombria até. À medida que vais avançando ao longo do corredor sentes o meu perfume. 

Sorris

Mal sabes tu que de mim, aí, resta uma sombra do que fui. Mal sabes tu que na tua prolongada ausência eu morri, aos poucos, devagar e, com dor. Enquanto caminho nas ruas frias da vila que me acolheu, sinto no fundo do bolso uma chave. Há sempre uma forma de voltar atrás. Há sempre uma maneira de regressar a casa. Vai haver um dia em que os nossos sonhos rebentam dentro de nós e aí talvez eu volte a saber a morada do meu coração. Porque hoje, esta é só a chave da porta que eu já não posso abrir.

3 comentários:

Anónimo disse...

Lindo!

Filipa disse...

Obrigada, meu Pedrinho :)

Cinefreak disse...

23, tá lindo, lindo, lindo *.*
fogo, mas é possivel tu escreveres alguma coisa qe eu nao goste? acho qe nao!
Beijufaaas, te adoro viu? :p